O Último Unicórnio será, sem dúvida, um dos livros mais conhecidos de Peter S. Beagle e o único, até agora, que tive oportunidade de ler.

We Never Talk About My Brother é um daqueles livros cujo título não me fascina – lembra-me demasiado algum romance trágico, sentimental, meloso e cor-de-rosa. Não é o caso. Na realidade é uma pequena antologia de contos  com pitadas fantásticas, pequenas histórias fascinantes e originais aconselháveis a qualquer leitor do género.

O livro abre com Uncle Chain and Aunt Rifke and The Angel, o conto responsável pela ilustração da capa e que conta como um anjo desce à terra para servir de inspiração a um pintor. Apesar das asas o anjo nem sempre se comporta angelicamente e em busca do quadro perfeito o tio do narrador pinta quadro após quadro, com obsessão crescente.

Segue-se o conto que dá nome ao livro, We Never Talk About My Brother, que narra como um rapaz se apercebe que o irmão mais novo poderá controlar a ordem dos acontecimentos, fazendo morrer alguém no passado ou provocando imensas catástrofes, a seu belo prazer, por vingança ou ciúme.

The Tale of Junko and Sayuri é a terceira história e uma das mais fascinantes do livro, contando como um jovem de classe baixa se eleva na sociedade feudal japonesa e arranja uma esposa com a capacidade de se transformar em qualquer animal.

King Pelles The Sure foi outro dos contos que se realçou – num reino estável e  próspero, o rei anseia por canções bélicas que imortalizem o seu nome. Para tal terá de ser induzida uma pequena guerra, uma pequena escaramuça com um vizinho fraco. Não conta, no entanto, com o ciúme dos restantes reinos circundantes que rapidamente tecem alianças contra ele.

Para além destas histórias, um americano transforma-se gradualmente num francês de gema, um fantasma força o morador da casa para um duelo (mas tomando como arma, poemas), um fugitivo encontra esconderijo junto de um velhote com estranhos poderes e um poema relata a história por detrás das Tapecearias do Unicórnio. Estes contos quase que seriam histórias normais não fosse algum elemento perturbador que pode conferir ironia, tragicidade ou apenas estranheza.

Concluindo, apesar da impressão inicial conferida pelo título, o conjunto de histórias revelou-se original e interessante, conseguindo fazer-me lembrar num ou outro conto um dos meus autores preferidos de histórias curtas, Zoran Zivkovic.