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Depois de uma intensa sexta-feira, apenas pude comparecer para a sessão de ficção científica onde se contou com a participação do autor português João Barreiros, do brasileiro Fábio Fernandes, e da sul africana Lauren Beukes. A primeira conversa decorreu em português, apenas com os autores português e brasileiro, tocando-se na evolução do género em cada um dos países e nas obras de cada um. João Barreiros recordou Disney no Céu entre os Dumbos (lançado pela Livros de Areia) bem como A Bondade dos Estranhos (publicado pelas Edições Chimpanzé Intelectual), e Fábio Fernandes o seu livro Os Dias da Peste, sem se esquecer do seu recente Obliterati (lançado na colectânea Space Opera pela Editora Draco.

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A segunda conversa, em inglês, envolveu apenas Lauren Beukes. As perguntas à autora foram semelhantes, realçando-se a diferença de percurso na carreira de alguém que escreva em inglês, o que possibilita a entrada no mercado anglo saxónico. Claro que este seria um dos temas mais debatidos, a diferente exposição da obra que a língua possibilita, tendo havido foco nas traduções.

Lauren falou do trabalho que desenvolve com os tradutores, Fábio Fernandes nas diferenças narrativas entre escrever em português e inglês, e João Barreiros dissertou sobre o seu conto Uma Noite na Periferia do Império que chegou a ser publicada numa antologia em inglês – uma forte história cómica, irónica e hilariante que apenas poderia ter sido escrita num cenário português.

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Se a compreensão de outras culturas pode ser complicada para quem lê obras traduzidas, surgem também imprecisões e erros crassos em obras escritas sobre outras culturas. E aqui houve espaço para cada um dos autores falar de obras sobre os respectivos países: Fábio Fernandes falou de Brasil de Ian McDonald que terá diálogos pouco convincentes, João Barreiros dissertou comicamente sobre As Fogueiras de Deus de Patricia Anthony onde o Rei vive no Castelo comendo barras de chocolate (numa época em que este não existia), , e Lauren Beukes referiu uma banda desenhada onde o aeroporto de Johannesburgo ficará no meio de um deserto.

Para além dos problemas próprios da língua, falou-se da evolução do género em cada um dos países representados, e tocou-se nalguns pontos actuais, passando pela polémica dos prémios Hugo. Houve ainda espaço para os autores referirem algumas das obras do género que os terão marcado, e para Lauren Beukes falar um pouco mais do seu processo de escrita, que envolve pesquisas nas cidades que tem como cenário, ou das pessoas que pretende representar nas suas obras. No final houve espaço para questões, que levaram à referência de obras onde a memória pode ser convertida, manipulada ou transmitida.

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E assim foi este evento de três longas sessões em torno da banda desenhada, do policial e da ficção científica que, fora o título infeliz de “Outras Literaturas”, possibilitou a vinda de autores estrangeiros interessantes, num formato diferente do usual lançamento pontual ou do Fórum Fantástico (que não tem, claro, o orçamento de uma fundação Gulbenkian).