Existem milhares de formas de se contar uma história, centenas de modos de se estruturar uma narrativa, mas pouco mais de uma dezena de maneiras de tornar uma obra original. Esta é a hora de revisitar, renovar ou rejeitar completamente um paradigma.

Esta é uma pequena antologia, constituída por 13 contos que se propõe a atingir um objectivo ambicioso: recriar histórias e quebrar trancas à imaginação; publicada no Brasil pela Tarja, uma editora dedicada à literatura fantástica.

Pequeno conjunto de páginas, como seria de esperar, nem todos os contos me fascinaram: algumas enveredam por uma onda demasiado urbana na fantasia, outros assemelham-se a coisas já lidas algures.

O conto de entrada, Mai-ni Expressas é talvez o mais sólido e coeso, da autoria do editor da antologia. Este conto centra-se em Cid, um entregador de encomendas de nível 6 – o que significa que é capaz de lidar com rufias brigões, ou de fazer entregas em áreas de guerra; sempre na sua mota topo de gama não poluente, que conduz através de uma realidade envolta em simulacro.

O segundo conto que realço é Una, de Roberta Nunes, que reconta a história mais velha da bíblia seguindo uma alienígena, talvez divindade, que vagueia de planeta em planeta e espalhando o prazer entre as espécies.

Fogo de Artifício é o conto de Eric Novello, que mistura sobrenatural com as personagens saídas de Alice no País das Maravilhas, assassinos perversos responsáveis por estranhas mortes em lojas de brinquedos. Uma mistura interessante para alguém que, como eu, nunca conseguiu simpatizar com o coelho atrasado, o gato irritante ou a rainha de copas.

A Lenda do Homem de Palha, de Leonardo Pezzella Vieira, parece-se com uma história tradicional, daquelas que assombram as crianças e alguns adultos, como a nossa Dama Pé de Cabra. O espantalho não seria um ser tão inanimado quanto parece, mas um ser que de noite ganha movimento para se alimentar, e recolhe a energia da Lua. De dia é alvo das partidas das crianças e jura vingar-se e reviver o medo ao Homem de Palha.

Ana Cristina Rodrigues apresenta-nos O Templo do Amor, a história de um assassino contratado para matar a amante, a sacerdotisa principal do Templo. Mas a sua sucessora irá também se tornar sua amante.

Por último, Madalena é um conto com raízes no folclore luso-brasileiro, segundo o qual:

A mulher que mantivesse relações sexuais com um padre seria transformada, como castigo, em uma mula desprovida de cabeça. De onde lhe nasceria a cabeça, o monstro cuspiria fogo e a galopar de seus cascos despedaçaria aqueles que cruzassem o seu caminho.

Madalena, uma criança numa missão, acorda assustada. Com medo dos pesadelos, com medo da realidade, questiona-se se serão apenas sonhos quando acorda marcada. Assustada, procura a ajuda de um padre a quem tenta explicar os tormentos nocturnos, sendo castigada e acusada de devassa.

A antologia constitui um conjunto diversificado de contos, que misturam o horror com a ficção científica, a fantasia ou o folclore. Aconselhável a quem deseje ler algo diferente, histórias de origem dispare da anglo-saxónica. Por último, resta apenas agradecer o envio do exemplar!