O Visconde Cortado ao Meio forma, conjuntamente com O Barão Trepador e Cavaleiro Inexistente, um género de trilogia fantástica, em que as personagens principais se encontram em situações caricatas. Se em O Barão Trepador um rapaz decide viver entre os ramos das árvores retratando o idealismo, e em O Cavaleiro Inexistente uma armadura ganha vida e nos apresenta uma sátira ao cavalheirismo, em O Visconde Cortado ao Meio, Italo Calvino apresenta-nos um homem que terá sido cortado ao meio durante a guerra.

Retornado a casa meio homem, do Visconde apenas restou a sua pior parte, com um enorme desejo de mutilar todos os seres vivos à sua semelhança, ou seja, decepando metade do corpo. Após o regresso do Visconde torna-se comum visualizar, na floresta, metade de uma pomba morta ou metade de um cogumelo; e durante a noite as suas aparições auspiciam calamidades.

Mas para tudo o que é extremo existe o seu oposto, e afinal a outra metade do Visconde também sobreviveu à guerra, contendo tudo o que de bom existia no homem completo.  Se a metade má é temida pelas suas maldades, a metade boa rapidamente se torna temida pela sua extrema bondade, que com a sua enorme vontade de ajudar, acaba por se meter na vida dos que o rodeiam.

Entre as duas metades exploram-se episódios de extrema bondade e maldade, demonstrando o quão prejudicial é tudo o que é excessivo. Ainda que seja uma leitura espectacular, O Barão Predador continua a ser, dos três, o meu preferido, pela sua complexidade e desenvolvimento da personagem principal – tanto em O Visconde Cortado ao Meio como em O Cavaleiro Inexistente, as personagens principais são demasiado estáticas, presas na personificação de um extremo desprovido de sensatez.