Este é o segundo volume da colecção Imaginarios, publicada pela editora brasileira Draco, que se propõe a trazer histórias de fantástico, ficção científica e horror. O primeiro volume foi já alvo de um comentário apropriado e é agora a vez do segundo, onde podemos contar com a participação de alguns conhecidos autores portugueses.

Esta colectânea abre com uma história de João Barreiros, Se Acordar Antes de Morrer… um conto entre a ficção científica e o horror carregado da forte ironia que costuma caracterizar a escrita do autor, uma história bastante superior à que li recentemente, na colectânea Brinca Comigo.  Este é um dos meus contos favoritos da colectânea – um autómato de funções publicitárias, vestido de pai Natal, acorda antes do tempo. Ainda que não esteja na sua melhor forma, inicia a distribuição de brindes a potenciais compradores. Mas o centro comercial está repleto de seres humanos frios, que murmuram “mi…o…los”, e lá fora, ninguém lhe responde quando tenta distribuir as ofertas.

O Toque Invisível de Alexandre Heredia foi outra das minhas histórias preferidas, talvez por me relembrar um pouco River of Gods ou Cyberabad Days, ao se centrar numa entidade artificial omnipotente, proveniente de um projecto de melhoria de performance. Com a internet, esta inteligência artificial espalha-se por todos os computadores do mundo e é capaz de controlar vários equipamentos electrónicos.

O conto de Sacha Ramos, A Rosa Negra, é bem distinto destes trazendo-nos uma história fantástica de tradição e tragédia familiar, em que um jovem pretende afastar-se do negócio da família, contra o intuito do avô, há muito falecido.

Entre as restantes histórias podemos encontrar uma história urbana, O Cheiro do Suor por Eric Novell,  em torno de uma personagem de sentidos apurados e estranhos poderes, procurada pela polícia – não só pelos crimes que terá cometido, mas também para desempenhar uma estranha missão; ou uma história futurista onde a energia utilizada pela humanidade provém dos mais novos, enclausurados em fábricas – a revolta destes jovens é a mola impulsionadora da história de Tibor Moricz, Eu te amo, papai.

Às vezes eu os vejo é o conto de Saint-Clair Stokler, uma história que me agradou nalguns pontos, mas me desiludiu com um final expectável. Candeias, por sua vez, traz-nos Flor do Trovão, uma história anti-predestinados que poderia ter sido engraçada, mas falhou na concretização ao se manter demasiado superficial – o enredo nunca nos envolve e o leitor sente-se cada vez mais distanciado.  O conto de Luís Filipe Silva centra-se na luta de um homem para libertar a  casa que terá sido roubada através de pirataria (algo possível com o avanço tecnológico): uma história com trechos interessantes, mas que se torna algo confusa e talvez precisasse de um pouco mais de trabalho.